O mercado financeiro nacional está prestes a testemunhar a maior operação em bolsa, através da Oferta Pública Inicial (IPO, em inglês) do Banco de Fomento Angola (BFA), que terá início nesta sexta-feira (5) com o término no dia 25 do corrente mês.
A operação, aguardada com bastante expectativa, sendo a de maior envergadura alguma vez realizada no mercado doméstico (cinco vezes superior o volume financeiro realizado pelo BAI), traz, contudo, algum remorso quanto ao impacto de liquidez que a mesma poderá causar no sistema financeiro bancário, sobretudo na pequena banca, os chamados Bancos Domésticos de Importância Não Sistémica (D-NSIBs).
Um dos principais elementos de preocupação será uma eventual crise de liquidez, para não dizer um estrangulamento da carteira de depósito dos bancos de menor dimensão, sem isentar alguns bancos sistémicos que não gozam de saúde financeira, pois é na percepção de fragilidade que reside o problema.
Na prática, investidores angolanos – particulares e institucionais – tenderão a realocar fundos dos depósitos bancários e de outras aplicações para subscrever esta oferta. Este redireccionamento de poupanças para o mercado de capitais representa uma transferência de liquidez do circuito bancário tradicional para a bolsa, o que no curto prazo pode reduzir a liquidez disponível nos bancos comerciais.
Tomemos como exemplo a operação relacionada à venda de 10% (1.945.000 acções) do Banco Angolano de Investimentos (BAI), naquela que foi a primeira IPO realizada na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), em Junho de 2022. Nesta operação, houve um único intermediário financeiro (brokers), na altura o próprio BAI, o que abrangeu apenas os clientes da entidade na compra das suas acções.
A operação do BFA, apesar de democrática e positiva para o mercado de capitais, ao abranger todos os brokers e vários agentes de liquidação (bancos), traz alguma preocupação.
Imaginemos que os investidores ou clientes que tradicionalmente mantêm os seus depósitos nestas instituições, muitas delas com risco de rácio de liquidez mais apertado, decidam movimentar ou resgatar parte das suas aplicações para investir nas acções do BFA?
De forma simplificada, é evidente que o papel do sistema financeiro é fazer com que o dinheiro circule, e como qualquer outra operação na Bolsa de Valores existe obrigatoriedade de liquidação das operações, mas, num mercado como o angolano, qual será o impacto na banca em relação ao repasse dos recursos? Como evitar o temor de uma hecatombe no sistema financeiro?
Em última instância, alguns bancos poderão enfrentar dificuldades de tesouraria durante o período da oferta, tornando-se mais dependentes de linhas de apoio de liquidez do Banco Nacional de Angola (BNA) ou de empréstimos interbancários para cumprir os seus requisitos de curto prazo.
Enquanto procuramos respostas as questões acima, claramente o BFA irá ganhar com a absorção desta liquidez…